Recolocação profissional: ameaças e  oportunidades

 

Um profissional de finanças  ao lidar com a questão de recolocação no mercado de trabalho precisa fazer algumas análises para tomar decisões que têm impacto de curto, médio e longo  prazo, além de adotar algumas posturas para facilitar o processo de reinserção.

 

O objetivo básico de toda recolocação profissional é pelo menos manter as condições  do emprego anterior, principalmente o valor do salário e o nível das atribuições.

 

A luta pela manutenção dessas condições   envolve uma   situação conflitante: quanto mais exigências forem colocadas para a aceitação do novo emprego, mais tempo será necessário para sua obtenção, o que por sua vez gera perdas econômicas pela demora em restabelecer a renda interrompida. Por outro lado, uma recolocação mais rápida pode ser feita à  custa de perda do nível de renda anterior ou de redução do nível de atribuições, o que pode ter implicações negativas sobre a renda no futuro.

 

Todo processo de recolocação profissional se defronta com  ameaças e oportunidades que precisam ser bem administradas.

 

Um tipo de ameaça recai sobre os profissionais já cristalizados numa função bastante específica. Ele pode ter passado anos trabalhando apenas com conciliação bancária ou fazendo lançamentos das operações  financeiras no sistema informatizado. Apesar do  extenso tempo neste trabalho ele pode  não  ter desenvolvido outra habilidade capaz de lhe permitir assumir uma função diferente daquela até então desempenhada. Tornou-se um profissional engessado com muito pouca mobilidade no trabalho.

 

Outra ameaça pode afetar  profissionais com um campo mais amplo de atuação, mas que ao longo dos anos não se reciclaram e, por isso, dominam apenas procedimentos típicos da sua  organização. Dadas  as características especiais da organização onde ele ficou durante anos, essa estagnação não lhe impediu de sobreviver na  função.    Entretanto, ao perder  esse emprego,  poderá ter sérias dificuldades de recolocação. Esse quadro é particularmente frequente na  função de tesoureiro ou equivalente em pequenas e médias organizações, onde um  atributo muito  valorizado para a função é o fator confiança, às vezes em detrimento de maior habilidade em finanças. Passado o choque inicial da dispensa, o profissional vai aos poucos tomando consciência de suas limitações e da natural dificuldade para se reposicionar no mercado de trabalho. São frequentes os casos de downgrade ou renúncia profissional.

 

As duas ameaças mencionadas estão relacionadas com a incapacidade do profissional para atender a novas exigências do emprego em vista e são causadas principalmente  por   planejamento profissional inadequado.

 

 Pelo lado positivo, a recolocação em virtude de demissão não voluntária apresenta algumas oportunidades para  o profissional.  As principais são as seguintes:

 

- Obter melhor valorização de seu trabalho: muitas vezes o profissional permanece tamponado, trabalhando aquém de seu real potencial. Por comodismo ele se mantém nessa função até o momento em que é dispensado, quando pode surgir a oportunidade para fazer um trabalho mais valorizado.

 

- Evitar a estagnação profissional: é sabido que muitas organizações não proporcionam o ambiente apropriado para o desenvolvimento profissional. No tópico anterior, o profissional faz  menos que pode. No caso presente, ele usa todo o seu potencial, mas não tem possibilidade de avançar. Nesse caso, também o profissional não tem a iniciativa para mudar a situação e fica estagnado. Depois de  demitido podem surgir novas perspectivas de crescimento profissional.

 

Uma vez mergulhado num processo de recolocação, o profissional deve observar alguns pontos que o ajudarão a atingir seu objetivo. São os seguintes:

 

-  Valorizar seus pontos fortes no currículo e nas entrevistas.

 

- Não perder a disputa para concorrentes de mesmo nível ou menos qualificados por motivo de currículo mal elaborado  ou pobre comunicação na entrevista.

 

- Ter em mente que a habilidade de comunicação  escrita e falada é um dos fatores determinantes na contratação.

 

Num processo seletivo, muitos candidatos são eliminados com a redação de um simples parágrafo. Assim, é importante fazer algumas simulações de redação de temas  e respostas a possíveis perguntas e submetê-las uma opinião abalizada. Esse procedimento, além de melhorar o desempenho na entrevista, elimina ou reduz a tensão a que o candidato ficaria sujeito diante da expectativa de não saber o que escrever ou responder.

 

- Possuir a base mínima de conhecimentos  específicos:  operações bancárias, títulos de crédito, noções de contabilidade,  informática e  cálculos financeiros,  Excel avançado ou intermediário e fundamentos de tributação.  

 

- Atentar para habilidades complementares  importantes.

 

É bem conhecido o fato de que alguns profissionais com boa formação técnica encontram dificuldades para crescer profissionalmente ou se recolocar no mercado de trabalho em decorrência da carência de determinadas habilidades complementares. Elas podem ser uma forte ajuda no processo de recolocação profissional.   

 

- Procurar pensar “fora da caixa”.

 

Na área financeira existe uma forte tendência ao conservadorismo de linguagem, práticas e crenças. Mas não deve ser esquecido que também é um campo onde existe espaço para pensar e inovar. A criatividade é um atributo raro e valioso em praticamente todos os campos. Nos processos financeiros ela pode trazer resultados surpreendentes. Procure desenvolvê-la. Esse atributo pode compensar com vantagem a limitação profissional em áreas mais específicas e  pode contribuir fortemente para a recolocação profissional.