1. Fatores a considerar antes de aplicar o dinheiro
1.1 Risco – Embora existam diversos tipos de risco, vamos considerar aqui o risco de mercado. Ele está relacionado com a variação esperada para a rentabilidade do investimento e é o fator de maior influência na escolha do mesmo. O risco de algumas opções de investimento depende do prazo de aplicação. Uma classificação muito usada para o perfil do investidor em relação ao risco é conservador, moderado e arrojado.
1.2 Prazo de aplicação – representa o intervalo de tempo em que o aplicador pode ficar com o dinheiro investido. Um prazo curto de aplicação restringe as opções de escolha. Além disso, para algumas aplicações financeiras de renda fixa, quanto menor o prazo, menor será a rentabilidade. Alguns investimentos têm um prazo inicial de carência que é um período mínimo de permanência com o dinheiro aplicado.
1.3 Objetivo do investimento – pode ser renda, valorização ou ambos. Algumas opções de investimento só permitem valorização. Considera-se que um investimento pode ser usado com o objetivo de renda quando ela paga um rendimento periódico (juros, aluguel, dividendos, etc.). Alguns investimentos, mesmos sem distribuir rendimentos, podem ser usados com o objetivo de renda porque podem ser resgatados parcialmente sem restrição alguma.
1.4 Valor da aplicação – o valor disponível para aplicação restringe as possibilidades de investimento para a maioria das aplicações financeiras. As opções de maior risco e maior complexidade são legalmente restritas ao denominados investidores qualificados que são aqueles que possuem investimentos financeiros superiores a R$ 300.000,00. Em alguns casos, o valor mínimo da aplicação é de R$ 1.000.000,00. O valor da aplicação também influi sobre as taxas de administração cobradas em alguns investimentos e, desse modo, acaba afetando a rentabilidade final.
1.5 Complexidade de administração – as opções de investimento apresentam diferentes graus de complexidade para sua administração que influem principalmente sobre o grau de informação que investidor precisa ter. Uma opção de investimento com grande complexidade de administração geralmente tem maior grau de risco.
Depois de passar pelo crivo dos fatores acima, caso haja mais de uma opção de investimento, a escolha recairá sobre a de maior de rentabilidade esperada, no caso de uma única escolha. Os princípios e informações listados a seguir ajudam no processo de estimação ou avaliação da rentabilidade dos investimentos.
2. Princípios e informações para a seleção de investimentos
2.1 Rentabilidade e risco – estão diretamente correlacionados pois quanto menor for o risco, menor será o potencial de rentabilidade e vice-versa. Se o risco é baixo, inevitavelmente a rentabilidade será baixa. O risco alto é uma condição necessária para que a rentabilidade possa ser alta, mas não é condição suficiente.
2.2 Rentabilidade líquida real – é o parâmetro correto para avaliar um investimento. Trata-se da rentabilidade do investimento depois de descontados o imposto de renda e a inflação. Quando comparamos várias opções de investimento, num mesmo período de tempo, podemos desconsiderar a inflação já que ela afeta igualmente todas as opções analisadas. O mesmo raciocínio se aplica ao imposto renda quando as opções estão sujeitas às mesmas alíquotas, no mesmo prazo de aplicação. Nas outras análises será necessário descontar o imposto de renda e a inflação da rentabilidade total esperada. Por exemplo, para saber quanto é necessário investir para atingir depois de determinado número de anos, um certo valor com o poder de compra de hoje, é necessário considerar a taxa líquida real esperada para o investimento.
2.3 Investimento em dólar – no longo prazo não existe possibilidade para o investimento em dólar proporcionar rentabilidade real elevada. Embora oscile dentro de determinadas faixas, a taxa de câmbio nunca proporcionou nem poderá proporcionar valorização real significativa no longo prazo. Se isso acontecesse, afetaria fortemente as importações do país e a inflação. Por esse motivo, a cotação do dólar normalmente sofre intervenção do governo, mesmo no chamado regime de câmbio livre ou flutuante.
2.4 Investimento imobiliário – a rentabilidade histórica divulgada para os imóveis tende a estar superavaliada. Isso acontece porque no cálculo da valorização geralmente são considerados os valores de compra, venda e aluguel, mas não são incluídos os inevitáveis gastos com manutenção. Como acontece com o dólar, a rentabilidade real no longo prazo não poderá ser elevada. Nesse caso, porque os preços dos imóveis se tornariam astronômicos. Apesar disso, a rentabilidade do investimento imobiliário no longo prazo tem sido superior à da poupança e de várias opções de investimento financeiro.
2.5 Investimento em poupança – Quando foi criada, a poupança se propunha a dar uma rentabilidade real líquida de 0,5% ao mês, pois pagava além dos juros, a correção monetária , sendo isenta de imposto de renda. No histórico acumulado, a correção monetária ficou abaixo da inflação, mesmo desconsiderando o efeito dos planos econômicos. Depois que a correção monetária foi substituída pela variação da TR, a defasagem dessa taxa em relação à inflação se manteve, com exceção do período de 1994 a 1998, quando foi superior à inflação. Como base em dados do site do Banco Central, entre fevereiro de 1991 (mês de criação da TR) e junho de 2014 (8.550 dias), calcula-se uma rentabilidade real da poupança pelo sistema antigo da ordem de 3,7% ao ano, usando o IPCA como indexador. Porém, essa rentabilidade tem se reduzido, principalmente a partir de 2012 e não mais se repetirá. Assim, a poupança será cada vez mais um investimento defensivo. Pode ser usada como uma forma de acumulação de dinheiro, mas sem potencial para fazê-lo crescer significativamente.
2.6 Investimento em renda fixa – as taxas variam em função do tipo de aplicação, valor e prazo de aplicação.
O histórico de elevadas taxas SELIC e CDI verificado entre meados 1996 e até 2018 não mais se repetirá. Assim, a taxa média verificada naquele período não deverá servir de guia para se escolher onde o dinheiro deve ser aplicado.
Algumas aplicações financeiras de renda fixa podem apresentar um rendimento diferente daquele pré-estabelecido, caso sejam resgatadas antes do vencimento. Por exemplo, NTN-B com vencimento em 2035 com uma taxa de 6,12% ao ano mais IPCA no momento da compra , pode apresentar um rendimento diferente – maior ou menor – caso seja resgatada antes do vencimento, pois o resgate é feito a preços de mercado. O rendimento previsto no momento da compra é garantido caso o título seja carregado até o vencimento. Essa é uma característica típica dos investimentos de renda fixa que podem ser negociados no mercado antes do vencimento.
2.7 Investimento em ações – são as opções de investimento com maior potencial de rentabilidade, mas com um grau de risco bem maior do que o investimento em renda fixa e imóveis. As estatísticas de rentabilidade são muito variadas, pois podem se referir a uma ação, um setor empresarial ou ao mercado como um todo (IBOVESPA). Com relação a este, a rentabilidade real bruta do IBOVESPA desde sua criação em 1968 até o mês de junho de 2014 foi de 10,3% ao ano, usando-se com indexador o IPC FIPE. A rentabilidade medida até dezembro de 2007, antes da crise financeira mundial atingiu 13,6% ao ano.
Nenhum tipo de investimento financeiro no período considerado proporcionou essa rentabilidade. Esses dados atestam que o maior risco do investimento em ações é compensado pelo maior retorno obtido.
2.8 Em prazo longos, mesmo pequenas variações na taxas de juros afetam fortemente o valor acumulado do investimento.
Esse fato é causado pelo poder de acumulação dos juros compostos.
3. Previdência privada: como lidar com a redução dos juros
Poupar e investir durantes os anos de trabalho para conseguir uma aposentadoria complementar à da previdência complementar tem sido uma prática crescente entre os brasileiros.
Trata-se de uma decisão de longo prazo, pois envolve um período de acumulação de capital que depois será transformado em renda. Dependendo o início do plano de aposentadoria, a soma do prazo de investimento com o de recebimento da renda pode chegar a oitenta anos ou até mais.
Um prazo assim tão longo requer uma análise cuidadosa, onde algumas previsões são fundamentais para que os objetivos sejam alcançados, sendo a principal delas a taxa de retorno obtida pela carteira de investimentos.
A elevada taxa de juros real paga pelos títulos públicos brasileiros – há anos entre as mais altas do planeta – facilitou em parte, até 2016, o trabalho de montagem dos planos de previdência privada, seja por meio de investimento realizado diretamente pelo interessado ou pela previdência privada contratada junto aos bancos. Mesmo um investidor totalmente avesso ao risco, conseguia com os títulos públicos taxa reais de juros de 7 ou 8% ao ano que é um excelente patamar de retorno para um plano de previdência privada.
Com a redução dos juros ocorrida a partir de 2017 e a perspectiva sua continuidade, os planos de previdência privada passaram a se defrontar com um grande desafio.
Juros reais reduzidos dos títulos públicos, muitas vezes quase nulos, são uma constante nos países desenvolvidos, onde há muito mais tempo que no Brasil, existem planos aposentadoria complementar. Entretanto, nesses países os planos são administrados com menor aversão ao risco em comparação ao que se observa no Brasil.
A rentabilidade real do IBOVESPA desde sua criação em 1968, é de aproximadamente de 10% ao ano, tomando-se o IPC FIPE com indexador.
Este dado de rentabilidade real satisfatória considerando o mercado de ações como um todo é consistente com a rentabilidade das empresas isoladamente e também tem sido encontrado em vários levantamentos realizados no mercado de ações norte- americano sob a ótica de longo prazo.
Outros estudos também têm mostrado que o investimento imobiliário apresenta um retorno em torno de 11% ao ano (valorização mais taxa de aluguel). Embora o rendimento real do investimento imobiliário seja um pouco mais baixo porque os levantamentos não incluem alguns custos, principalmente de manutenção, custo de vacância e inadimplência do locatário, o retorno anda é significativo e tem uma boa relação risco-retorno, sendo uma opção de investimento para aposentadoria complementar.
Do que foi exposto, conclui-se que diante do cenário de juros reais reduzidos das aplicações financeiras sem risco, será inevitável o aumento da exposição ao risco na montagem de carteiras de investimento dos planos de previdência privada, de modo a compensar o baixo retorno das aplicações financeiras sem risco, como sempre aconteceu nos países com mercados de capitais desenvolvidos.