Financiamentos: pontos importantes
O orçamento pessoal é uma previsão de receitas (renda, juros, aluguéis, etc.) e despesas num determinado período de tempo (mês, trimestre, ano, etc.).
Esta previsão permite que a pessoa visualize de forma organizada como estão suas contas hoje e como elas ficarão num determinado período de tempo à frente.
As pessoas costumam ter um orçamento que pode ser escrito ou não. Um orçamento escrito indica a existência de um maior interesse pela sua utilização e fornece informações de melhor qualidade. Se o orçamento não está escrito (apenas na memória da pessoa), fornecendo-lhe informações sem uma maior precisão, sua efetiva utilidade será bem menor.
Ter um orçamento escrito e formalmente organizado é apenas uma condição necessária para se ter um planejamento financeiro satisfatório. Muitas pessoas chegam a elaborar um orçamento mas desistem ao verificar que ele não funciona a contento.
Um bom planejamento financeiro pessoal começa pela criação de um orçamento pessoal confiável, o que significa previsões com um satisfatório grau de precisão.
Para algumas pessoas, as previsões mais incertas são as de renda. Entre essas se destacam aquelas cuja renda é formada principalmente por comissões ou bônus. Nesses casos, o melhor a fazer é trabalhar com três hipóteses de renda anual: a provável, a otimista e a pessimista. Assim, as despesas obrigatórias ficariam atreladas à previsão pessimista. Um valor mais elevado de gastos seria realizado caso se confirmassem as previsões provável ou otimista.
Quanto às despesas, se há um orçamento detalhado e disciplina na sua execução, não haveria, na maioria dos casos, porque haver surpresas nos valores realizados.
A falta de disciplina na execução do orçamento ocorre principalmente com as compras por impulso. Algumas pessoas adotam soluções especiais para este problema, como por exemplo sair de casa sem talões de cheque ou cartões de débito ou crédito, não passar em determinados lugares etc. Outras evitam levar crianças para as compras.
A observação de um princípio simples pode dar bons resultados: os dissabores das compras feitas por impulso costumam ser bem mais fortes e duradouros do que a satisfação por elas proporcionadas.
Muitas pessoas se deparam com o fato de que as despesas projetadas são sempre superadas. Isto acontece, geralmente, porque o orçamento de despesas foi elaborado de modo incompleto. Convém lembrar um princípio básico: sem planejamento cuidadoso, nossos gastos serão sempre maiores do que imaginamos.
Uma pessoa pode ter um orçamento bem elaborado, sem maiores dificuldades com as projeções de renda e despesas e ainda assim enfrentar sérios problemas na administração de suas contas. Isto acontece quando existe um descasamento temporário entre renda e despesa.
A pessoa pode ter uma renda anual compatível com sua despesa. Entretanto, em determinados meses, a renda é menor do que a despesa e em outros acontece o contrário. Neste caso, é preciso que a pessoa tenha, além do orçamento, uma projeção de entradas e saídas de dinheiro, mês a mês ao longo do ano. Seria o seu orçamento de caixa.
Como controlar o orçamento pessoal gastando corretamente
Uma parcela significativa da educação financeira é dirigida a pessoas endividadas e mergulhadas em crise financeira. Boa parte das orientações dadas a esse grupo mostra o que não fazer para evitar o aperto financeiro e o que fazer para sair dele.
Além dos endividados, existe um grupo significativo de pessoas que não vivenciam habitualmente crises de endividamento, mas apresentam fraco desempenho financeiro e, por isso, também precisam de orientação.
Muitas vezes, mesmo possuindo boa renda, essas pessoas não conseguem poupar uma parcela dessa renda e possuem um patrimônio bem abaixo de seu real potencial. Por outro lado, existem pessoas que mesmo sem ter renda alta, conseguem formar algum patrimônio.
Na maioria das vezes, o fraco desempenho financeiro das pessoas com renda alta ou o sucesso daquelas com renda menor se explica pela forma com a renda é gasta entre os vários itens de despesa.
Para conseguir um bom desempenho financeiro, além de outras condições, a pessoa precisa gastar bem a sua renda. As pessoas mais afeitas a controle financeiro, tomam todas as suas decisões de compra com base na filosofia de gastar bem.
Para quem não está disposto a fazer um controle rigoroso do orçamento, existe a possibilidade de aplicar o conceito de gastar bem aos itens maior peso no orçamento como carro e moradia.
Os tópicos seguintes mostram como esses dois itens podem comprometer uma parcela significativa do orçamento pessoal e dificultar a realização de metas financeiras de longo prazo.
1. Custo de automóvel
Quando uma pessoa tem um carro, incorre em dois tipos de custos: os custos de propriedade e os custos de utilização.
Os custos de propriedade são de valor fixo e independem da utilização do carro. São formados pela desvalorização, juros sacrificados com o dinheiro gasto na compra, IPVA, seguro e valor do aluguel da garagem, ainda que seja própria (é o custo de oportunidade, supondo que a vaga possa ser alugada a terceiros). Ainda que o carro fique parado todo o tempo, esse custo existirá.
Os custos de utilização são gastos variáveis vinculados à quilometragem rodada, principalmente combustível e manutenção.
De modo aproximado, para um carro adquirido à vista, seu custo mensal de propriedade no primeiro ano é 3% do valor da compra. Nos anos seguintes esse custo se reduz um pouco, acarretando um custo médio mensal de 2,5%, caso o proprietário permaneça com o carro pelo prazo de cinco anos. Caso o carro seja adquirido com financiamento, o custo de propriedade é 20% maior do que o custo decorrente da compra à vista. Assim, um carro comprado por R$ 80.000,00 dará um custo de propriedade de R$ 2.000,00 por mês se for comprado à vista (2,5%) ou de R$ 2.400,00 se for totalmente financiado. O mencionado aumento de custo de 20% decorre dos valor dos juros contidos nas prestações. A outra parcela contida nas prestações do carro corresponde à amortização da dívida e não representa um custo e sim um investimento já que é ela que permite ao financiado tornar-se dono do carro.
Se considerarmos uma pessoa que roda mil quilômetros por mês com o carro, o custo de utilização será de R$ 1.200,00 (R$ 1,20 por quilômetro rodado), totalizando um custo mensal de transporte – custo de propriedade mais custo de utilização – de R$ 3.200,00 ou R$ 3.600,00, dependendo da forma de aquisição, à vista ou financiado. Supondo que essa pessoa tenha um renda mensal de R$ 8.000,00, seu custo mensal de transporte representará 40%% ou 45% de seu renda, o que é um percentual bastante significativo.
Dessa análise conclui-se que a posse de um carro pode representar um encargo muito expressivo sobre o orçamento pessoal e, sob a ótica de longo prazo, pode ser um entrave à obtenção de um desempenho financeiro satisfatório.
O custo de propriedade pode ser reduzido com a opção por carros de menor valor e esticando-se o prazo de permanência com o automóvel.
2. Custo de propriedade de imóvel
Se uma pessoa mora num imóvel próprio, obviamente não paga aluguel, mas incorre no custo de oportunidade desse imóvel e que é representado pelo valor do aluguel que obteria caso alugasse o imóvel a terceiros ou ainda pelo rendimento que obteria no mercado financeiro com o dinheiro gasto na compra do imóvel. O real custo de oportunidade será sempre representado pelo maior valor sacrificado – aluguel ou rendimento da aplicação financeira.
Suponha uma pessoa que mora num imóvel que recebeu de herança e que tem um valor de R$ 700.000,00. Se considerarmos que esse valor poderia obter no mercado financeiro sem risco uma taxa líquida de 0,5% ao mês ou 6% ao ano (o aluguel daria um percentual menor), morar nesse imóvel acarreta um custo de oportunidade de R$ 3.500,00 por mês. Esse valor deve ser comprado com a renda dessa pessoa. Se sua renda mensal é de R$ 8.000,00, seu custo de moradia representará 43,75% dessa renda.
O que importa nesse caso é pessoa ter conhecimento desses percentuais e avaliar se eles são compatíveis com seus objetivos financeiros de longo prazo.
Conclusão:
Os dois exemplos mostram que além da forma mais conhecida de gastar a renda que é consumo de produtos e serviços, atrelados ou não ao endividamento, o uso de bens de valor expressivo – mesmo quando adquiridos sem dívida – pode representar um parcela significativa da renda pessoal e, por isso, dificultar a formação de patrimônio.
Deve ser notado que nas duas situações descritas, os custos dos bens (carro e imóvel) nem sempre são tão claros como no caso do consumo de bens e serviços. Para algumas pessoas, esses custos ficam um tanto ocultos. E como são custos incorridos o tempo todo, o efeito negativo sobre o orçamento pessoal será permanente.
Os tópicos seguintes relacionam práticas capazes de permitir que as pessoas consigam maior economia em suas decisões de compra.
a) Comprar ao menor custo final
É sabido que o preço é um dos fatores fundamentais nas decisões de compra. Toda pessoa procura intuitivamente comprar ao menor preço. Assim, considerando bens e serviços de mesma utilidade, a escolha do consumidor recairá naqueles de menor preço. Entretanto, há situações em que os custos envolvidos na compra não se resumem ao preço pago. Podem existir custos adicionais (fretes, instalação, despesas operacionais e de manutenção) e que também precisam ser computados para se comparar ao custo total final.
Os exemplos seguintes ilustram o princípio de compra ao menor custo final:
1. Uma pessoa está comparando o preço de lavadoras de roupa e considera que as marcas lhe satisfazem igualmente. Digamos que o preço da marca A seja menor do que o da marca B . Entretanto o custo de instalação da marca A pode ser superior ao da marca B a ponto do custo total daquela marca (preço de compra mais preço de instalação) ser maior do que o da marca B.
2. Duas impressoras a jato de tinta atendem aos interesses do comprador. Na hora da escolha, ele não deverá levar em conta apenas o preço. Precisará também computar o custo operacional de cada uma delas que é representado pelo preço dos cartuchos de tinta e da cabeça de impressão. Pode acontecer da impressora com menor preço de compra ser desvantajosa quando se considerar o custo da substituição da cabeça de impressão, da tinta utilizada e o seu rendimento.
3. O preço do aluguel do apartamento A pode ser menor do que o do apartamento B. Entretanto, quando consideramos as despesas de condomínio e imposto predial, o custo final do apartamento B pode ser menor do que o do apartamento A
b) Preferir os produtos de maior peso ou volume
Quando uma empresa fabrica um mesmo produto com pesos ou volumes diferentes, aqueles de maior peso ou volume têm um menor custo por unidade de medida. Por exemplo, um quilo de sabão em pó sairá mais barato se for comprada uma caixa de 1000 gramas ao invés de duas caixas de 500 gramas. Assim, se a pessoa gasta 500 gramas de sabão em pó por semana, deveria comprar uma caixa de 1000 gramas quinzenalmente e não uma caixa de 500 gramas por semana.
A escolha poderá levar em conta outros fatores como possibilidade de desperdício, aumento de consumo, deterioração, etc.
Assim, caso não haja outras restrições (desperdício, durabilidade, etc.), os produtos nas embalagens de maior peso ou volume devem ser preferidos.
c) Avaliar o preço considerando o aproveitamento total
Alguns produtos, principalmente alimentos, têm um grau de aproveitamento final menor do que o seu peso (peixes, frango inteiro, alguns tipos de carne ). A comparação de preço deverá ser efetuada com base no preço pago por peso aproveitável e não no preço pago por peso comprado.
d) Aproveitar promoções sem criar consumo extra
Para que o consumidor ganhe efetivamente com qualquer promoção é necessário que ele não aumente o consumo do produto adquirido.
Consumindo mais, a promoção seria apenas uma forma de pagar um preço menor pelo consumo extra. Isto poderia até aumentar seu gasto total em comparação ao que ele teria caso não comprasse na promoção.
É possível até obter um ganho maior com a promoção comprando para fazer estoque, desde que a velocidade de consumo do que for estocado não aumente.
Imagine um produto que possa ser estocado facilmente e sem custos expressivos de armazenagem seja colocado à venda com um desconto sobre seu preço normal. Suponha também que o comprador não espere que a promoção venha a se repetir tão cedo. O desconto deve ser aproveitado agora.
Caso o consumidor compre apenas a quantidade habitual do produto que está sendo vendido com desconto, estará deixando de realizar algum lucro. Quando compra para estocar, o consumidor ganha com o preço reduzido mas assume um custo decorrente da imobilização do dinheiro no estoque.
Para estocar o produto com desconto e obter lucro, deve-se observar um limite máximo de compra. Os cálculos mostram que esse limite equivale a muitos meses de consumo. Evidentemente é impraticável fazer estoques para muitos meses de consumo dos produtos em promoção. A melhor decisão é simplesmente adquirir o produto em quantidade maior. A intuição pessoal dá uma grande ajuda para definir qual deve ser essa quantidade.
e) Proteger-se contra a tentação das compras de pequeno valor
Toda pessoa tem uma defesa natural contra gastos de alto valor. Já as compras de valor reduzido costumam passar facilmente pelas barreiras psicológica do preço.
Evidentemente, muitas compras de pequeno valor trarão um impacto significativo sobre o orçamento.
f) Comprar aquilo que é realmente necessário
Em situações de prosperidade, boa parte das compras são feitas por impulso. Muitas pessoas sentem um bem estar psicológico no ato de comprar ainda que sejam coisas inúteis.
Uma pesquisa revelou que boa parte dos compradores de livros não leem mais do que as dez páginas iniciais. Os brinquedos infantis também estão nesse caso. A diferença é que são utilizados , mas apenas por pouco tempo, enquanto não se esvai o fator novidade.
g) Comprar produtos agrícolas da safra
O preço de frutas e legumes é fortemente influenciado pela lei da oferta e procura e por este motivo sofrem variações expressivas ao longo do ano.
Quando tais produtos são comercializados no período de entressafra, seus preços podem atingir valores expressivamente mais elevados. Mas quando tais produtos são comercializados no pico da safra, ocorre uma redução muito grande em seus preços.
Devido à mencionada variação de preços, quando uma pessoa compra estes produtos no auge da safra, ao mesmo tempo em que elimina aqueles que estão na entressafra, pode conseguir uma economia substancial no valor gasto.
Financiamentos: pontos importantes
1. Deve-se dar preferência a financiamentos com prestações fixas.
2. É vantajoso quitar financiamentos de curto e médio prazo antecipadamente, desde que os juros sejam corretamente excluídos do valor a pagar.
3. Deve ser evitado o endividamento até o limite do orçamento.
4. O custo de qualquer financiamento é maior do que o rendimento das aplicações financeiras de renda fixa.
5. A vantagem da realização de um pagamento à vista não pode ser avaliada pelo percentual de desconto oferecido. A partir do desconto, deve-se calcular a taxa de juros cobrada no pagamento parcelado e, então, analisar se a taxa do financiamento é vantajosa.
6. Negociando, pode-se conseguir um preço à vista menor do que o parcelado. A prática usual do comércio em oferecer preços iguais para pagamento à vista e parcelado, foge à racionalidade econômica.
7. O consórcio pode ser uma forma de financiamento com custos bastante reduzidos para quem pode dar um lance que assegure sua contemplação.
8. Em época de taxas de juros elevadas, os financiamentos com taxas prefixadas são contraindicados. A queda posterior dos juros não fará efeito sobre essas taxas.
9. As operações de leasing com correção cambial têm um risco bem mais elevado.
10. Uma operação de leasing pode ser vantajosa ainda que a pessoa não fique com o bem no final do prazo contratual.