FORMAÇÃO PROFISSIONAL

 

Tendências do mercado de trabalho na área financeira


Nos últimos anos, o mercado  de trabalho na área financeira  tem sofrido importantes alterações devido a  fatores    macroeconômicos,    gerenciais  e tecnológicos. Ao longo dos próximos anos, essa mudança deverá se  manter e, em alguns casos,  se acentuar.

Os  fatores macroeconômicos nos anos recentes com atuação  mais marcante sobre o mercado  de trabalho na área financeira foram  a queda da inflação depois do Plano Real  e a abertura da economia brasileira.

Com a forte redução das taxas de inflação, a importância das  aplicações financeiras - uma atividade típica de tesouraria -  foi naturalmente reduzida. Quando tínhamos uma inflação alta, era muito importante dirigir os esforços para maximizar os ganhos ou minimizar as perdas com os recursos financeiros ociosos.

Ao mesmo tempo em que a inflação brasileira se reduziu drasticamente, alargou-se a abertura da nossa economia, obrigando as empresas a se tornarem mais competitivas, o que ressaltou a importância da atividade de controladoria.

Análise de custos, avaliação da rentabilidade das operações e estudo da economicidade de processos, entre outras,  são atividades que passaram a ter uma importância crucial para as empresas, tornando a função de controladoria mais importante do que nunca.

Nas pequenas e médias empresas, a gestão da  controladoria e da  tesouraria tem ficado sob a responsabilidade de uma mesma pessoa. Nesse caso, a mudança antes mencionada, significou apenas uma alteração de ênfase no trabalho que o gerente já executava.  Nessas empresas, a agregação  das  atividades de tesouraria e controladoria também se verifica junto aos profissionais de nível operacional.

Em  grandes organizações ainda predomina a tradicional dualidade na gestão das áreas de  controladoria e tesouraria. Ela  também é observada junto aos profissionais que trabalham nessas áreas.

Entretanto, este quadro já começou a mudar nessas empresas,  principalmente por causa  de mudanças no processo gerencial. Já se nota o início da  junção das funções de tesouraria e controladoria, como reflexo dos processos de downsizing. Naturalmente, a tendência se refletirá sobre os profissionais que trabalham nessas áreas.

Do ponto de vista organizacional, a simplificação da cadeia hierárquica, com a eliminação dos níveis gerenciais intermediários, tem afetado sensivelmente a área financeira.

Muitas empresas estão colocando  as áreas financeira, administrativa e jurídica  sob a responsabilidade de um mesmo gerente.  A tendência tem sido designar o responsável pela área financeira como gestor das três áreas. Esta tendência afeta a exigência de qualificação para o gestor financeiro. 

As mudanças  tecnológicas têm afetado bastante o trabalho na área financeira. A informatização tem ceifado milhares de empregos na tesouraria das empresas, levando os profissionais dessa área a buscar novos nichos de trabalho.

Deve ser  destacado que o fenômeno do enxugamento em áreas da tesouraria - principalmente contas a pagar e  a receber -   tende a pegar muitos profissionais desprevenidos. É que nessas áreas o trabalho é normalmente volumoso, o que costuma dar às pessoas que nela trabalham a crença de terem seus empregos garantidos. 

A informatização afeta, além do trabalho operacional, também aquele mais especializado,  como é o caso dos cálculos financeiros. Os  sistemas centralizados executam os cálculos financeiros, fazendo com que o profissional se limite a acionar o teclado do seu terminal. Alguns deles  comentam que o "sistema faz tudo" e,  portanto, não precisam dominar  esses cálculos. Esta costuma  ser uma armadilha fatal.

Quanto aos  segmentos de trabalho promissores para os profissionais da área financeira, a dinâmica de mudança rápida e contínua   que se verifica no ambiente econômico brasileiro e internacional, torna difícil fazer prognósticos.

Entretanto, um princípio permanecerá válido em quaisquer circunstâncias: a todo tempo, as áreas promissoras serão  aquelas em que o profissional tiver a oportunidade de usar seu conhecimento combinado com a criatividade individual. São áreas onde a informática e a reengenharia  nunca conseguirão eliminar a necessidade de trabalho analítico e criativo.

Sem pretender esgotar a lista de áreas promissoras, poderíamos citar: engenharia financeira, análise e administração  de investimentos, redução de custos, avaliação de desempenho econômico-financeiro,  marketing financeiro e  consultoria financeira.

Nos segmentos mencionados sempre haverá espaço para a inovação e utilização do potencial de criatividade, permitindo ao profissional de finanças a oportunidade de se destacar e passar ao largo da crise.

Também vale registrar algumas orientações de caráter geral para as pessoas que já trabalham ou buscam uma oportunidade ou a recolocação na área financeira.

Inicialmente é preciso destacar o conjunto obrigatório de conhecimentos exigidos de um profissional da área financeira, tanto na tesouraria como na controladoria.

Esta base mínima de conhecimentos deve incluir: economia brasileira e  contas nacionais, produtos e serviços do mercado financeiro, matemática financeira, contabilidade gerencial, sistema tributário nacional, economia internacional,  além do conhecimento geral do software Excel, com ênfase em suas funções financeiras e estatísticas e seus recursos de simulação. Também é fundamental o conhecimento total de uma língua estrangeira (falar fluentemente, ler e  escrever). A segunda língua estrangeira começa a ser mais  um requisito.

A figura do super especialista está em baixa. A preferência é por um profissional generalista, com uma ou duas áreas de concentração de interesse.

Outro aspecto importante a ser registrado é que um elevado percentual dos currículos recebidos pelas empresas continuam sendo  mal elaborados.  As falhas mais comuns são: estruturação inadequada, inclusão de detalhes irrelevantes na experiência profissional, informações conflitantes, cifras incoerentes de resultados alcançados e má apresentação gráfica.

Como o currículo é o cartão de visitas  do candidato a emprego, se for mal elaborado, já deixa a pessoa em desvantagem na "largada" do processo de seleção.

Outro aspecto a merecer atenção é o treinamento. De modo geral,  quando as pessoas estão empregadas, dão pequena prioridade ao treinamento. No momento em que perdem o emprego ou sentem a ameaça de perdê-lo é que  se dão conta de como negligenciaram no desenvolvimento ou aprimoramento de suas habilidades profissionais.

Também a empresa que até então nunca havia se preocupado com o treinamento e desenvolvimento  de seus colaboradores, no momento em que os demite, paga uma espécie de  "vale-treinamento".  Talvez, muito tarde.

Por último, as estatísticas mostram que a forma mais utilizada de procurar emprego - responder a anúncios de jornais - é a menos eficaz. É sabido que os maiores índices de sucesso acontecem através de indicações pessoais ou de postulação direta junto à empresa pelo próprio interessado.

 

Desafios do desenvolvimento profissional na área financeira

 

 A  acumulação de experiência é um processo natural à medida que se amplia o tempo de trabalho.  Em circunstâncias normais, um profissional da área financeira, no final de sua carreira,  terá acumulado valiosa carga de experiência profissional.

 

 Entretanto, para muitas empresas, a maturidade tarimbada   não é um valor inquestionável para boa parte das funções. As empresas,  principalmente as grandes, muitas vezes buscam profissionais que juntem juventude e experiência, por mais inconsistente que esse objetivo possa parecer.

 

 Mesmo por parte das pessoas, rápido desenvolvimento profissional é uma meta muito valorizada.

 

Nesse sentido, algumas  empresas oferecem como atrativo para jovens  candidatos a emprego,  possibilidade de rápido crescimento profissional. É evidente que o cumprimento dessa promessa exigirá uma contrapartida por parte do empregado.

 

Se não dispõe de incentivos especiais no próprio ambiente trabalho, o profissional de finanças  precisará  queimar etapas no processo de absorção de conhecimento. Acumular conhecimento ainda cedo na vida profissional tornou-se um objetivo muito valioso.

 

Os profissionais mais determinados em relação ao objetivo de rápido crescimento profissional adotam a postura mais efetiva para isso: trocam voluntariamente de emprego, visando conseguir novos desafios,  novas experiências e acelerar seu crescimento profissional. É a fuga da mesmice.

 

 Essa atitude, entretanto, é impraticável  para a maioria dos profissionais, em virtude da natural escassez de oportunidades  e de diferenças de práticas de trabalho.

 

 Por exemplo, para aqueles que trabalham no setor bancário, onde há práticas profissionais bastante específicas, existem  dificuldades para se transferir rápida e espontaneamente  para outro setor de atividade.

 

Em resumo, o desafio para a maioria dos profissionais de finanças (e de outras áreas também) é acelerar o desenvolvimento profissional sem mudar de emprego.

 

 A aceleração da absorção de  conhecimento exige, invariavelmente, esforço pessoal aumentado.  Em última análise,  é um processo de investimento de tempo e, às vezes, de dinheiro no sentido de acelerar o processo de aprendizagem.

 

 As recomendações seguintes  se aplicam aos profissionais de finanças que desejam acelerar seu desenvolvimento profissional.

 

 1. Aceitar novos desafios profissionais na mesma empresa (rotação de função ou job rotation para os que gostam de neologismos)  e encará-los como uma oportunidade de crescimento profissional. Para aqueles que têm potencial para funções gerenciais, uma mudança radical de função  – por exemplo, passagem pela área de compras – é particularmente promissora. Convém lembrar que a atividade financeira tem interligação  com praticamente todas as áreas de uma empresa.

 

 2. Procurar conhecer todo o processo de trabalho em que estiver envolvido, buscando ir além dos temas estritamente financeiros. Por exemplo, se é da  área de contas a pagar, deve buscar conhecer os aspectos fundamentais da legislação tributária  pertinente,  principalmente aqueles menos sujeitos a constantes mudanças. No trabalho com o  fluxo de caixa, é importante  ser mais que o centralizador dos dados gerados pelas diversas áreas da empresa.

 

 3. Fazer com disposição aquele treinamento que lhe foi oferecido, mesmo que  à primeira vista não pareça ter uma ligação direta  com suas atividades atuais. Também aqui, para os que têm potencial para funções gerenciais, esta recomendação é importante.

 

 4. Valorizar  o ambiente de saudável competição profissional  existente em certas empresas. Este é um caminho natural para aceleração da aprendizagem profissional.

 

 5. Procurar compreender  os fundamentos da  economia nacional e internacional e seus efeitos sobre a atividade financeira da organização.

 6. Dominar os fundamentos da informática (sistema operacional, editores de texto e planilhas). Este procedimento tende a aumentar a produtividade do profissional, na medida em que o torna menos dependente do suporte interno. Em termos mais gerais, procurar conhecer  a ligação da tecnologia da informação com a atividade financeira e, principalmente, suas tendências.

 

 7. Organizar grupos para troca de conhecimento e experiências. Podem ser formados com  profissionais de outras empresas tais como  clientes,  fornecedores ou parceiros.

 

8. Procurar  o equilíbrio entre teoria e prática de finanças. Muita prática sem domínio dos fundamentos teóricos não é recomendável. Também não agrega valor a teoria divorciada da realidade. É importante reconhecer cedo alguns mitos largamente encontrados na prática financeira e que podem prejudicar  uma carreira profissional. Não esquecer também que em determinados tópicos de finanças, há um significativo distanciamento entre teoria e prática.

 

9. Assistir palestras ou  entrevistas de especialistas em temas específicos ou correlatos com a área financeira. É uma oportunidade para conhecer opiniões, metodologias e expectativas fora do ambiente de trabalho. Revistas, jornais, sites e programas especializados em finanças têm um papel importante  para isso.

 

 10. Aumentar o número de  porquês a serem respondidos e o número de respostas a um mesmo porquê.